Um pretenso livro - Capítulo V (Parte 2)

Essa situação mudou quando, após inúmeras agressões sexuais, Luzilda teve uma hemorragia interna. Mas como minha menstruação já chegou? Ainda é dia sete. Luzilda, em vão, tentava conter aquele sangramento com uma toalha velha. Estava dentro de seu quarto, simplesmente desesperada. Não queria chamar a mãe. Sabia que ela investiria mais tempo discutindo do que a socorrendo. Quando, uma de suas irmãs, abriu a porta do quarto, em busca de um pertence qualquer.
-Aaaaaaaaah! – Um grito longo e fino ecoou pelo pequeno casebre.
Todos correram em direção ao quarto, assustados com tamanho alarde. Luzilda estava debruçada sobre o sangue. Havia desmaiado. Após alguns segundos em estado de choque, sua mãe correu, pôs ela em cima da cama, revelando a imensa poça de sangue que inundava o quarto. Tão pálida estava a menina que jurava que ela havia falecido. Gritou seu marido, que, como de praxe, estava trabalhando na roça. Logo conseguiram arranjar uma senhora entendida de assuntos médicos. Não possuía nenhum diploma. Tudo que sabia fora adquirido na prática. Deu-lhe inúmeros xaropes, líquidos, garrafadas, passou-lhe cremes. Nada adiantou. O sangramento simplesmente não cessava. Prontamente, então, correram para a casa do coronel da região, carregando Luzilda no colo. O coronel, após meias palavras com o pai da menina, entrou em sua caminhonete e os três, a 100 por hora, seguiram em direção ao posto de saúde mais próximo. A mãe de Luzilda teve de ficar com as crianças. Ficou no casebre a chorar, imaginando mil motivos que poderiam ter levado sua filha àquele estado quase terminal.
Como por um milagre, Luzilda sobreviveu. Após receber algumas bolsas de sangue, tomar alguns coagulantes e passar alguns dias internada no posto de saúde da região, Luzilda recuperou-se. O médico responsável por seu caso, diante dos sintomas apresentados pela paciente, logo desconfiou que o sangramento fora decorrente de agressões sexuais. De nada adiantaria contatar o juizado especial. Instituições jurídicas não funcionavam no interior. O que realmente valia era o poder despótico do coronel. 
De posse do diagnóstico, o médico, antes de falar com o pai de Luzilda, conversou com o coronel e o alertou sobre os estupros. O coronel, estupefato com tal revelação, ficou de conversar com o pai da menina. Então, já a caminho de casa, o coronel ameaçou o pai de Luzilda:
 - Olha, Francisco, se eu te pegar de novo estrupando essa menina, eu te mato! E não mandá  ninguém executar esse serviço, não! Eu mesmo farei isso pessoalmente! – gritava ele freneticamente, enquanto dirigia a velha caminhote.
 - Certo, Seu Joaquim. Num se preocupe, não. Isso num vai mais se repetir. 
O coronel não fez isso por querer o bem de Luzilda, ou por sentir compaixão da situação daquela pobre menina. Apenas o fizera para ganhar sua simpatia. Luzilda, desde pequena, despertava o interesse de pedófilos como o coronel Joaquim. Luzilda apenas mudou o parceiro. Sua vida sexual continuou (até mais!) ativa. Conhecera, com apenas doze anos de idade, a verdadeira função da mulher naquela vida interiorana.
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