Difícil decisão

Ponderei. Trabalhei. Arquitetei. Ainda possuía o imenso trabalho de disfarçar minhas horas de dedicação a meu tão arquitetado plano.
Amigos. Sem eles, com certeza, não teria conseguido. Junto a eles pude descobrir a melhor maneira, o melhor caminho, as melhores armas, o melhor dia, o melhor horário. Amigos. Como os estimo profundamente. Conselhos e mais conselhos me foram dados. Aproveitei o que era de mais útil e, ao mesmo tempo, mais prático e eficiente. Sabia que toda ajuda era escassa.
Muitos já haviam falhado.  Arquitetado e concretizado o plano, não havia mais volta, não havia mais formas de recuar. Sabia do imenso risco que corria. Se fosse pego, a morte seria meu único destino. Morte não de corpo, mas sim de espírito, de honra. Se fosse pego, sacrificaria esses longos cinco anos.
Finalmente, havia chegado a tão grande, esperada e temida hora. Como estava tenso. Minhas vísceras remexiam-se, freneticamente, em um ritmo irritante. Bebia copos e mais copos do bom e velho aguardente para criar uma coragem, em um local até então desconhecido.
Finalmente dei o primeiro passo. Olhei. Devagar ia. Taciturno. Apenas o sussurrar da fauna dos dominava aquela úmida e negra madrugada. Algumas chamas dançavam belamente a muitos metros de distância. Tudo muito escuro.
 Após inúmeros abraços e lágrimas, parti. Levava em meu dorso somente o consolo de meus companheiros. Fui. Caminhei. Olhei. Escondi-me. Corri. Quando cheguei perto da selva, disparei.
Corria como uma criança em um grande campo de futebol. Corria como um atleta em sua ânsia pelo ouro. Corria como o marido que leva sua esposa ao parto. Corria como a mãe que leva seu filho febril ao hospital. Ofegante, parei.
Levei meu antebraço ao rosto. Em minha frente desenhava-se, imperiosamente, a famosa luz que meus ancestrais tanto falavam. Um incrível sentimento de liberdade invadiu-me. Como saber de um sentimento nunca antes sentido? Não sei. Simplesmente sabia que aquele fervor em meu peito tinha nome, e ele era liberdade. Atravessei. Cheguei à luz.
 Atingi o tão almejado carpe diem. De súbito, um sentimento estranho invadiu-me. Espere aí, como é que pode tudo isso ter sido tão fácil? Passei longos anos de minha vida planejando essa fuga para chegar aqui e conseguir isso tão facilmente? Como era imbecil! Que pensamento mais sem sentido esse que se passava pela minha cabeça!
Lógico que não voltei. Lá permaneci. Aliás, mesmo que quisesse, não mais poderia retornar. Lá fiquei, dominado por uma felicidade quase que plena, mitigada por um sentimento de como foi fácil.
Hoje, digo aos meus netos que, quanto mais difícil e sofrido é o processo para se conquistar algo, maior valor você atribui a ele. Tão simples lógica que aprendi em tão complexa situação.

Difícil decisão (Poemas Avulsos)
# Sugestão de link:
1) Como tomar boas decisões, aqui.
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2 comentários :

1º Adorei a expressão "matutei" no post. =] Deu um ar super nordestino ao texto.... Amei!
2º Uma correção, (não uma crítica, pelo amor de Deus). Tu escreveu "cincos anos" ao invés de "cinco anos".
3º"Tenso"... não consigo ouvir/ler essa palavra sem sorrir. =)
4º Já falei antes, vc escreve incrivelmente bem. Sua mãe está certa em apoiar vc, pode contar com o meu apoio também, sempre!
Sempre que puder vou ler seus posts e comentar.
Por agora só te dou parabéns pelo seu talento inegável e te desejo boa sorte no blog!

aLiiiNe

Agradeço seus elogios e sua correção gramatical, Aline. Às vezes, posto os textos sem ao menos fazer uma revisão gramatical neles. HAHAHA.
Mais uma vez, obrigado! =]

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