Homo fragilis

Desta vez, não ponho a caneta em mãos por motivos egocêntricos e/ou pessoais. Muito menos motivos amorosos – e apelativos. Desta vez, peço que a caneta, em aliança com o turbilhão que me invade, transcenda seus limites e represente (pelo menos em parte) o despertar deste momento.
Em sua ânsia pelo poder, glória e substantivos abstratos similares, o ser humano deleita-se em uma gasosa e frágil força – até outrora oculta. Mas como preencher o vazio com outro vazio? O Homo fragilis, em sua ambição suprema, acredita deter em si todo o sentido do cosmos. Acorde! Desperte! Por que insistes em te alimentar com pueris ilusões? Por que, em tua teimosia juvenil, não reconheces tua potencial fragilidade? A película de porcelana do ser humano é revelada por um líquido sutil e docemente salgado: lágrimas.
O gritar de uma criança que, em seus primeiros anos de vida, é forçada a dialogar com horrendas enfermidades. O desespero de um adolescente, com infindáveis e promissores planos, que tem o dom da vida roubado por malditos (e irresponsáveis) goles de etanol. Um prisioneiro, do pior cárcere já contemplado – as drogas –, que vê sua vida esvair-se em um simples puxar de gatilho. Perderia todas as linhas deste texto e o fio de meu raciocínio se listasse todos os cadavéricos males que assolam a humanidade. Algum tipo de provação? Alguma forma de descobrir o limiar entre a resistência e a loucura? Carma de vidas passadas? Tais indagações também atormentam meu arcabouço cinzento.
Frágil. Vulnerável. Simplesmente mortal. Detentor de um presente que escapa por entre dedos com a mesma velocidade com a qual foi recebido. Sim, o ser humano é apenas uma incômoda poeira (ressalto que não encontrei palavras que pudessem expressar maior insignificância). No entanto, contrariando irrefutáveis lógicas universais, é do pó que ele extrai peculiar (e desconhecida) força. É na mais terrível decadência que ele contempla os tentáculos da esperança. Ergue-se, em colossal fúria, para logo depois ser prenchido pela completude do vazio. Irônico? Insano? Confuso, creio.
E assim o Homo fragilis segue. Debatendo-se por entre entranhas do destino. Removendo da escuridão a luz para seu trajeto. Construindo castelos sobre alicerces arenosos. Desabando sonhos e erguendo solidões. Surgindo do nada para o nada. Do fútil para o útil. E para o fútil novamente.
Errr... tal espécime de fato me intriga.

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5 comentários :

Excelente visão crítica sobre a complexidade humana. Receba meus parabéns, poeta!

Muito boa a sua reflexão sobre as fraquezas humanas, muito boa. Somos muito mais significantes do que pensamos ser, mas agimos como seres que nada significam para este grandioso planeta, a culpa é nossa com toda certeza, mas acredito na raça humana e um dia seremos a semelhança de Deus. pode acreditar!

Continue com as suas lucidas reflexões poeta. Um abraço.

Bem interessante! uma análisa realista sem chegar ao tom apelativo.

Parabéns pelo texto!

Gostei muito! Somos poeira ao vento, como diz aquela música Dust in the Wind tão brilhantemente interpretada por Sarah Brightman e também por Scorpions. Adorei o texto! Está de parabéns!

Agradeço as críticas, caríssimos leitores! A opinião de vocês sempre é construtiva! Abraços!

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