Cores de um epitáfio

Por: Unknown

15:56 -

Cores de um epitáfio

Tuas impecáveis curvas embebedam-se em minhas letras, sorriem por entre meus traços, percorrem meus afetuosos abraços.

Como queria que teus olhos saltassem das órbitas desta moldura e me extrapolassem (me preenchessem, me invadissem) com toda aquela tua suavidade – que só tu sabes demonstrar.

Clamo para que tua boca encontre os atalhos de meu desejo; oro para que traga consigo o toque úmido do mais puro prazer.

Busco o calor de tua companhia nas lacunas deste papel, em pensamentos vagos de tardes solitárias ou em janelas de um quarto de hotel.

Sinto o andar de tuas mãos pelo meu corpo; o sussurrar de palavras vãs entoando gemidos; os teus olhares preenchidos por libido; o suor e a saliva unidos – embriagados por pecados loucamente absolvidos.

Percorro meus dedos pela tua silhueta e apenas sinto a rigidez do papel, o cheiro das tintas e o repousar do pincel. Das cores (outrora reluzentes), apenas isso me restou. Rabiscos e pieguismos enfadonhos. Algumas telas em branco e incontáveis pensamentos medonhos.

O tom de tua voz inspirando-me canções; o eco de tuas palavras massageando meus tímpanos; o perfume de teu sorriso inebriando minhas alucinações; a endorfina de nossas insensatas declarações... Hoje, somente posso contemplar tais sensações com a nudez de minhas lágrimas. Pacientes, elas repousam sobre as cores de teu epitáfio, atraídas (em vão) pelo magnetismo de tua aquarela. Simplesmente, isso. Nada mais.