Pai, me compra um amigo?
AOS PRANTOS, meu filho veio em
minha direção, atropelando-se entre soluços e obstáculos:
- Que foi, pequenino? – envolvi-o em meus
abraços, afagando-lhe a dor.
- P-p-pai, me compra um amigo? – disse,
enxugando as lágrimas e com brilho nos olhos daqueles que possuem plena
convicção do que dizem.
- Comprar um amigo? – estranhei o
pedido, ofertando-lhe a impossibilidade empírica do fato por meio de um franzir
de cenho.
Explicou-me toda a história,
entre malabarismos e contorcionismos corporais, queixando-se de suas falsas amizades.
- Meu querido – adociquei a voz -, aprenda,
desde já, que o ser humano é o bicho mais difícil de se lidar. – retirei o
cabelo que caía em sua testa e aproximei-me de seu rosto. – Aprenda, também,
antes de tudo, a perdoar as pessoas.
Aqueles olhos inocentes transpareciam
a confusão que se instalara em sua mente. Pôs a mão no queixo, pensativo, olhou
para o teto e, como que em um Eureka, disse:
- Obrigado, papai! – e saiu, correndo em
desespero.
Após um nem tão curto lapso de
tempo, chegou-me com uma folha de papel, meio amassada e muito rabiscada,
agitando-a ao vento:
- Olha aqui, papai, o que eu fiz! – o sorriso
juvenil iluminava seu semblante. – Veja se aprendi a lição!
Aqui transcrevo seu conteúdo,
após as devidas correções gramaticais e inúmeras consultas ao dicionário
grego-português.
“COMO ESCOLHER UM BOM AMIGO
1. Um bom amigo divide a bola com
você, no jogo de futebol, e não sovina as figurinhas repetidas do seu álbum
predileto;
2. Um bom amigo ouve você quando,
ao gritar por socorro, pede que o ajude a se levantar e a limpar as feridas e
raladuras da queda de bicicleta;
3. Um bom amigo não só divide o
lanche da escola como também o ajuda a completar os trocados para comprá-lo;
4. Um bom amigo ajuda você a
escurecer os brancos daquela prova difícil;
5. Um bom amigo o aconselha a não
seguir por este ou aquele corredor, por saber que o valentão da escola o espera
logo adiante;
6. Um bom amigo acompanha você
não só nos dias ensolarados como também nos chuvosos, sempre de posse de um
guarda-sol/chuva;
7. Um bom amigo não ri de você e
sim com você ao pagar aquele mico na frente de todos – e ri muito dos outros
com você, claro;
8. Um bom amigo não põe em jogo
toda uma amizade por causa de uma aposta perdida ou de uma birra infundada, e,
por mais que o faça, você deve sempre estar disposto a perdoá-lo;
9. Um bom amigo lê mentes e sabe
o que e como dizer no momento em que você perde a partida do século do Mortal Kombat;
10. Um bom amigo é o irmão que queríamos
ter, sem as brigas pela parelha no vídeo game.”
- Nossa, filho! – surpreendi-me
ao terminar de ler os dez mandamentos. E percebi que, a cada um deles que lia,
em voz alta, seu anseio para o fim era maior, esperando a aprovação.
- E, então, pai, o que achou? – seus lindos
olhos brilhavam, em dúvida e ansiedade.
- Vem cá, escritor mais lindo do
papai, me dar um abraço! – abri os braços e nele recebi o maior e melhor amigo
que se pode ter.
#SUGESTÃO DE LINKS:1) Pai, me compra um amigo?, livro de Pedro Bloch, aqui. Pin It now!
2 comentários :
Comovente, meu querido. Você está se aperfeiçoando nas narrativas. Continue assim! Só uma dica: seja mais intuitivo quando nas narrações, visualize as cenas, sinta o suor dos personagens, o mel ou o fel de sua saliva ao pronunciar as palavras. Só uma crítica construtiva. Espero que estas palavras o ajudem a crescer.
Beijos!
Muito obrigado, Sara!
Suas críticas, como sempre, muito construtivas!
Ando lendo uns best-sellers para aperfeiçoar meus rascunhos, sempre na tentativa do dever-ser um escritor.
Abraços!
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