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ciúmes
,
crônica
,
inveja
,
oitavo pecado
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D. Aurélia Camargo
A INVEJA #1
“O ciúmes não
nasce do amor, e sim do orgulho. O que dói neste sentimento, creia-me, não é a
privação do prazer que outrem goza, quando também nós podemos gozá-lo e mais. É
unicamente o desgosto de ver o rival possuir um bem que nos pertence ou
cobiçamos, ao qual nos julgamos com direito exclusivo, e em que não admitimos
partilha. Há mais ardente ciúme do que o do avaro por seu ouro, do ministro por
sua pasta, do ambicioso por sua glória? Pode-se ter ciúme de um amigo, como de
um traste de estimação, ou de um animal favorito. Eu quando era criança tinha-o
de minhas bonecas”. (Aurélia, em A
Senhora, de José de Alencar).
Concordo com
D. Aurélia na plenitude de sua afirmação: o ciúme, em suma, nada mais é que uma
inveja disfarçada de mimos e coraçõezinhos. Não me crucifique, querido leitor,
antes do término deste raciocínio: é certo que há um lado positivo no ciúme que
preza pelo objeto de desejo, que engrandece o ego daquele que é alvo do zelo,
que apimenta o relacionamento, que rouba risinhos e brincadeirinhas dos amigos.
Em geral, o ser humano, porém, não sabe dosá-lo, e utilizá-lo, de forma
correta; quando não extrapola em overdoses, inflando demais o ego do pupilo,
dando-lhe uma autoconfiança exacerbada, debruça-se sobre o vício avareza,
transmutando o ciúme em simples menosprezo. O ciúme deve, pois, ser ministrado em
doses quase homeopáticas, mantendo-se no limiar entre o sufocamento e o desleixo
gratuito. Não redijo a bula deste medicamento; primeiro porque este não é o escopo do texto,
segundo porque minhas habilidades de trato com o Amor, e matérias similares,
são um fiasco, e terceiro porque simplesmente não sei como fazê-la. Somente
digo aos detentores deste sentimento que, em momentos de crise, tanto de
excesso quanto de ínfimo, devem ater-se à literalidade de sua etimologia:
do latim, zelumen e, do grego, zelos.
E o teor
desta prosa é o ciúmes ou a inveja? Acalme-se, meu caro, que revelaremos,
em uma tentativa fadada ao insucesso, claro, devido às inúmeras possibilidades,
algumas das demais facetas da inveja.
A inveja é um
pecado intrigante, até porque ela não tem de ser, necessariamente, um pecado,
não? A designada inveja positiva, pelo menos eu assim a denomino, é aquela que
nos impulsiona ao crescimento, quando almejamos alcançar o mesmo patamar de
outrem, não por atos ilícitos ou imorais, mas sim por cada gota de suor de
nossos rostos. Um “eu queria tanto isso” oscila entre o céu e o inferno,
dependendo do tom em que é proferido, e das intenções que pairam sobre o
intelecto do locutor.
Sempre recorro aos ditados
populares em minhas teses; isso porque, além de axiomas universais, aquelas
detêm um linguajar de notória acessibilidade. Se não comprovou ainda, leitor,
empiricamente, esta assertiva, certamente conhece alguém que o fez: “Aquilo que
vem fácil, vai embora fácil”. E em que ponto isto se encaixa em nossa prosa? No
ponto em que o portador da inveja, aquela condenada por princípios morais e
religiosos, sempre trilha o caminho mais ameno, para obter o cobiçado; e o faz
praticando desde contravenções até qualificados, lato sensu.
É, é isso, leitor. No momento,
nada mais me vem à cabeça, e creio que, mesmo que viesse, não o poria aqui,
para não cair em digressão (e para não espantá-lo com mais palavras ainda).
Espero que tenha sido o mais confuso possível.
# Sugestão de links:
1) O ciúme, por Gabriela Cabral, sob o viés da psicologia,
aqui.
2) O ciúme, sob diversos enfoques, do domínio Wikipédia, aqui.
3) Breve comentário a respeito de Aurélia Camargo, protagonista de Senhora, de José de Alencar, aqui.
4) Biografia do exímio escritor brasileiro José de Alencar, aqui.
# Sugestão de vídeo:
1) Senhora (1975) - Aurélia Camargo
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