Sarah Meneses, a curica de ouro

O ouro olímpico da judoca piauiense Sarah Meneses


Há pelo menos dez dias, ri-me ao ver que, no microblog Twitter, dentre os Trending Topics, constava a expressão “curica de ouro”, que aludia à conquista histórica do ouro olímpico pela judoca piauiense Sarah Meneses. Como é cediço, tal expressão advém do bordão utilizado por uma personagem de novela televisiva, transmitida pela emissora Rede Globo. No mesmo dia, também incorri em felicidade instantânea, ao deparar-me com um depoimento incontido, de idêntica temática, de um usuário da rede social Facebook; dessa vez, porém, de tom mais estúpido e menos humorístico que aqueloutro. Transcrevo um trecho da declaração, com as devidas correções gramaticais: “Pode ganhar milhões de medalhas... O Brasil vai continuar o mesmo em educação, saúde, segurança (...).” Aqui, utilizo-me de meu direito constitucional ao silêncio, tamanha a ausência de embasamento fático e lógico da assertiva. As críticas destrutivas e as expressões faciais ficam a seu critério, leitor.

Sarah Meneses - Olimpíadas Londres 2012 (Poemas Avulsos)

No entanto, não venho a você, leitor, falar-lhe de futricos ou novidades das redes sociais, claro. O escopo deste texto é manifestar a opinião, um tanto ufanista, devo dizer, de um piauiense, indignado com a manipulação da mídia televisiva, que, in casu, maiores congratulações atribuiu às conquistas inferiores de atletas terceiros, de forma puramente arbitrária.

Decerto que não há, com considerável frequência, a ocorrência de fatos de repercussão nacional, no estado do Piauí, que motivem ampla divulgação jornalística. Não há, também, como deve parecer, somente desastres ambientais lato sensu, casos de crimes políticos em nosso estado ou surtos epidêmicos. Devo informá-lo, para os devidos fins, que abrigamos o vencedor do concurso Soletrando 2011, organizado pelo programa televisivo Caldeirão do Huck, da emissora Rede Globo; possuímos destaques nos esportes, como a supracitada medalhista olímpica Sarah Meneses; havemos um dos melhores ensinos de educação privada do país, o que é corroborado pela excelente posição do Instituto Dom Barreto, conquistada nos últimos anos, na lista decrescente das melhores notas de desempenho dos estudantes brasileiros no Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM; e somos o berço de renomados escritores brasileiros, como Assis Brasil, representado por sua célebre obra Beira Rio, Beira Vida. Este rol é apenas exemplificativo (numerus clausus), claro. Os demais louvores de nossa terra fogem-me à memória.

É oportuno expor, leitor, à título ilustrativo do afirmado no início do parágrafo anterior, um curioso fato, que me ocorreu em viagem à cidade de São Paulo: um autóctone, ao saber minha naturalidade, contorceu-se e, tempestivamente, arrotou diversos dados estatísticos a respeito da precariedade econômica e das disparidades sociais do Piauí. É, e apesar de todas essas condições adversas, somos destaque como uma das melhores educações do país, disse, em um inflar de peito.

Informo-a, querida Mayara Petruso - e demais alienados, portanto, que o Piauí, assim como os demais estados do Nordeste, não é só seca, pobreza e miséria, como comumente propugnado por vias midiáticas. E que, ao contrário do que você propugna, se formos destruídos, o Brasil irá à ruína, porquanto levaremos conosco a mola propulsora do país. 

Finalizo com a transcrição de um trecho do livro Vidas Secas, de Euclides da Cunha, que resume, com louvável síntese e clareza, o cerne deste desabafo: o nordestino é, antes de tudo, um forte.


# SUGESTÃO DE LINKS:

1) Sarah Menezes: o ouro solitário do judô olímpico feminino, do Yahoo! Esportes, aqui.

2) Piauí tem duas escolas no 'top 10' do Enem 2010, do site G1, aqui

3) Não conhece a história de Mayara Petruso? Leia "Estudante é condenada por ofensa a nordestinos no Twitter", da Folha de S. Paulo, e saiba mais, aqui.
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