A família perfeita

Uma (falsa) família perfeita


Éramos uma família perfeita, no sentido bíblico da expressão. Marido, mulher e dois roliços e rosados filhos. Como bons católicos, íamos à igreja semanalmente, sempre aos domingos. Jantávamos em requintados restaurantes, preferencialmente aos sábados. Convidavam-nos para todos os eventos festivos, desde aniversários até réveillons. Sempre queriam nos manter por perto, como que à espera que, por um deslize, mostrássemos personalidades grosseiras e selvagens. Éramos impecáveis, no entanto. A vizinhança nos inveja e questionavam-se como uma família poderia ser tão unida e feliz. Devo dizer que éramos excelentes atores.

Meu irmão mais velho, desde os quinze anos de idade, entre idas e voltas a clínicas de reabilitação, subtraia bens de nossa casa, com o fito de vendê-los, para satisfazer seu vício em entorpecentes. Meu pai, como bom marido, há cerca de vinte anos, mantinha uma família paralela, com dois menores impúberes e mais duas gordas pensões alimentícias. Eu era considerado por minha mãe a salvação da família. Não cansava de repetir que o Pedrinho era o único são desta casa. Se se soubesse que sou homoafetivo, excomungar-me-ia, ou melhor, por-me-ia em uma fogueira, em semelhança aos tempos de glória da Santa Inquisição. Este exagero até que possui um quê de veracidade, leitor: por diversas vezes, ouvi-a rebatendo críticas de meu pai, afirmando que era melhor ter um filho drogado e ladrão que um filho veado. Ria-me ao ouvir esses absurdos, e sentia pena de sua exígua capacidade mental.

Família Perfeita (Poemas Avulsos)

Em um dia cansativo qualquer, retornava a minha casa, um pouco mais cedo, sob um calor imperioso. Bati à porta algumas vezes e, diante do insucesso das tentativas, lembrei-me que estava de posse das chaves. Com a garganta seca e quase sem sinais vitais, derrubei-me no sofá. Gemidos e palavras distorcidas adentraram, silenciosamente, meus tímpanos, despertando-me de um quase-sono. Curioso, e um pouco temeroso, confesso, fui à busca da fonte sonora. E, a passos largos, ao adentrar um dos quartos, para minha não tão surpresa, contemplei minha imaculada mãe em sexo oral com o irmão de meu pai. Minha gargalhada interrompeu a lascívia de ambos, que ao longe saltaram, atrapalhados, cobrindo-se entre vestes e exclamações.

 - É, eu sou mesmo a salvação desta família, minha querida mãe. – ri-me e saí, cantarolando.

# SUGESTÃO DE LINKS:

1)Número de divórcios no Brasil é maior, desde 1984, por site de notícias G1, aqui.

2) Relatório brasileiro sobre drogas, por OBID, aqui.
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