00:02
-
conto
,
oitavo pecado
,
ostentação
,
soberba
2
comentários


Pobre e soberba
A SOBERBA #1

A falta de sorte financeira e intelectual, no entanto, fora compensada com uma astúcia inigualável. Como se tal virtude não bastasse, era harmônica de curvas e traços de rosto. Isso mesmo que você está pensando, leitor: não demorou muito e ela logo se engraçou com o coronel da cidadela. Era a amante e, como boa profissional do ramo, sugava do adúltero bons quinhões. Nada que uma boa lábia (lê-se ameaças) não resolva, não?
Ostentava pelas vielas os mais requintados ornamentos, com uma altivez de rainha, despertando os cochichos e o imaginário alheios. Alguns diziam que ela era mulher da vida; outros, que havia herdado a fortuna de um tio desconhecido; os mais lunáticos acreditavam em seus poderes místicos: tachavam-na de bruxa. Não, leitor, sinto dizer que, a exemplo da segunda hipótese, ela não tinha o virtuoso coração de Aurélia, de José de Alencar. Enveredava-se mais para as tramoias de Marcela, de Machado de Assis.
E foi vivendo sua vidinha de bocados, sempre muito bem assessorada pela impunidade. Se você espera um desfecho trágico para nossa protagonista, leitor, feche esta aba e volte ao Facebook. Nunca foi desmascarada, punida nem - muito menos - carbonizada. Isto porque este é o roteiro da peça Brasil, na qual os vilões, via de regra, têm um final feliz.
2 comentários :
Amei a ironia no final do texto. A narrativa com uma cadência bem gostosa e simples. Sempre bom passar por aqui.
Agradeço os elogios, Leco, e as visitas também. Espero que você volte sempre!
Abraços.
Postar um comentário