Você não passa de um negrinho inútil, meu caro!

A PREGUIÇA #2
Caricatura de Machado de Assis (Poemas Avulsos)- QUERIDO, olhe para mim - disse D. Leopoldina, pondo as palmas das mãos sobre o rosto do pequenino Assis. – Nunca, nunca acredite naqueles que zombam de sua capacidade, certo? Fez-se uma longa pausa. A genitora sufocou-o com um imenso abraço, como que querendo protegê-lo da caixa de Pandora, alcunhada de mundo. Uma lágrima escorreu-lhe. Sabia que a vida ser-lhe-ia implacável; que não perdoaria sua origem humilde e sua descendência étnica. Inocente, esbugalhou os olhos, tentando compreender o motivo da emoção repentina. Mal sabia que este seria seu derradeiro afago.
Ressalto, leitor, para fins de coerência textual, que a estória, aqui exposta, passa-se no Rio de Janeiro, em 1845, época em que nascer negro era mais que um castigo do destino: era um castigo divino.
Assis crescera sob os cuidados da madrasta Inês, a mulata doceira de São Cristóvão. O pouco acesso que tivera à educação foi através do precário sistema de ensino público. O tempo, compartilhado entre os estudos e a venda de doces, era por demais escasso. O jovem, no entanto, além de exímio aluno, era um amante dos livros, que debruçava suas horas vagas sobre os clássicos da literatura mundial. Seu talento para a escrita era inigualável, corolário de sua intimidade com as letras. Inês inflava-se ao relatar a “enorme esperteza desse menino!”.
Assis sempre almejou subsidiar-se da literatura, malgrado as oportunidades serem mui escassas aos menos afortunados. Além de pobre, era negro, gago e epiléptico. Todas as portas eram-lhe, incisivamente, fechadas, em trancas e correias. Sua gagueira, além do tom de pele, claro, sempre fora alvo de repulsa. Sem mencionar a epilepsia que, por ser ainda pouco estudada, era considerada por muitos como uma possessão demoníaca.
Em uma noite qualquer de desespero, quando as esperanças pareciam gélidas e escassas, Assis abdicou do viver. Antes de sucumbir à overdose, no entanto, as palavras da genitora, ressoaram, tão nítidas e concisas, em sua memória. As drogas espalharam-se no chão; escorregou as costas em um canto qualquer do recinto e afundou a cabeça entre as pernas. Os soluços ecoaram até o alvorecer...
Aos 16 anos, após intermináveis tentativas vãs, Assis teve um de seus textos aprovado pela revista Marmota Fluminense, e publicado na categoria das revelações literárias. Seu talento sobressaiu-se diante da parafernália social. Tão vibrante quanto sua escrita, foi sua carreira: escreveu nove romances, duzentos contos, cinco coletâneas de poemas e sonetos e mais de seiscentas crônicas. Tornou-se o mais brilhante escritor de sua época, quiçá de todos os tempos. Tornou-se Machado de Assis.
Após consumir o resto de sua paciência, leitor, com enfadonhas linhas, concluo : antes de espichar-se com reclamações gordas e preguiçosas sobre suas dificuldades rotineiras, lembre-se de Machado de Assis, que, apesar do incrédulo do destino, transpôs não só a vida, como a si mesmo.

REFERÊNCIAS
NOGUEIRA JR., ARNALDO. Machado de Assis - Biografia. Disponível em: <http://www.releituras.com/machadodeassis_bio.asp>. Acessado em 19 jan. 2012.
Autor desconhecido. Machado de Assis - Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Machado_de_Assis). Acessado em 19 jan. 2012.

# Sugestão de link:
1) Obra COMPLETA de Machado de Assis, aqui.
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2 comentários :

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Besitos,
TL. ^^

Agradeço o elogio, Thaís, e espero que você volte sempre sim! Seguir-te-ei também, não se preocupe.

Abraço!

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