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conto
,
gula
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humor
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oitavo pecado
Sem comentários
Mais gostosa que nunca!
A GULA #2
COMPLETARAM dez
anos de casados na semana anterior. O tédio, há pelo menos três anos,
instalara-se na relação conjugal. Do contrato matrimonial, originaram-se três
filhos, dois amantes e muitos, muitos débitos. Marcelo e Carmem eram os
protagonistas do teatro que eles chamavam vida. A opinião dos vizinhos é sempre
muito importante, leitor.
Carmem, em
notória ousadia, desfilava pelo costumeiro pagode, com um short curtíssimo, uma
tomara-que-caia apertadíssima e três camadas de pele. Era mestra nos
superlativos. Com altivez de galo em chuva, exibia Leandro, que, para fins
teatrais, era amigo de família.
Em mesa próxima,
coincidência ou não, avistara Marcelo, intitulado pelos íntimos de São Jorge,
ao lado de mais uma de suas feras. Aproximou-se e, antes de destilar seu
veneno, Marcelo interpôs:
- Vejo que emagreceu, Carminha, o sarcasmo
acentuou-se no diminutivo.
- Sim, sim, rebateu rapidamente. Mais gostosa
que nunca!, deslizava aos mãos pelo abdômen saliente, enquanto ria-se, com ares
suínos.
Leitor, deve
informá-lo que nossa protagonista é o tipo de mulher que ou é deficiente mental
ou nunca foi proprietária de um espelho ou simplesmente não possui cérebro. Com
mais de noventa quilos, muito mal distribuídos por um metro e sessenta de
altura, achava-se detentora de todos olhares e holofotes. Até poderia sê-lo,
mas como alvo de comentários jocosos e risinhos contidos. E, não satisfeita com
toda a matéria que ocupava no universo, comia cada vez mais, com ânsia de quem
estava prestes a sucumbir de fome.
Chegando à casa,
viu que Marcelo estirava-se no sofá, em uma mistura intrigante de Olívia Palito
e Lord Voldemort, enquanto assistia ao jogo.
- Tão cedo e já em casa, benzinho?, emitia um
som que mais parecia um rosnar que um riso. O que tem para jantar?, a indagação
era automática.
- Já queres comer, mulher?, arqueou as
sobrancelhas, surpreso. Pobre do Leandro que deve ter desembolsado milhões com
toda aquela comida, gargalhou.
Acostumada aos
insultos, Carmem simplesmente dirigiu-se à cozinha. Minutos depois, o crepitar
do óleo e o cheiro da fritura despertaram Marcelo.
- Sabia que até que estás gostosa nesse
shortinho?, disse, enquanto estirava o pescoço.
Quando deram por
si, estavam aos gemidos ali mesmo, no sofá da sala. Afinal, Marcelo tinha de
fazer jus ao seu apelido.
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