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avareza
,
conto
,
oitavo pecado
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sofrimento
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Sou eu quem paga essa p*!
A AVAREZA #3
Obs.: Proibido
acesso a menores de dezoito anos por conter palavras de baixo calão.

- SOU EU quem paga essa
porra!
De lugares e vidas tão
distintos, ecoava esta frase, sempre muito bem acompanhada de gritos e
insultos. Atribua isso aos arbítrios da Avareza: qualquer um pode ser
proprietário de mãos bovinas, caro leitor.
De classe média alta, em seus
catorze anos de compreensível rebeldia,
Carlos monologava:
- Não aguento mais
minha mãe!, cerrava os punhos. Sou eu quem paga essa porra, imitava, em tom de
escárnio, o timbre da genitora.
Manteve-se em silêncio por
alguns segundos.
- Quando eu for maior
de idade, tudo será diferente, iludia-se. Passados quatro anos, tudo se manteve
em idêntico estado, quiçá pior.
E por que a mãe de Carlos
insistia nessa avareza, já que era aquinhoada?, você deve estar se
questionando. Porque ela viera de uma família pobre, ou melhor,
paupérrima e erigira todo seu patrimônio por meio de cada gota de suor de
exaustivas falcatruas. Não é tão fácil quanto parece apropriar-se do erário
público e ainda manter ares de honesto, leitor. Isso mesmo: a mãe de Carlos é a
típica representante da politicagem brasileira.
Quase que abaixo da linha de
pobreza, Pedro contava, ao final do dia, as moedas que arrecadara no sinal.
Juntou com os centavos da venda de bombons na praça, que não fora das melhores,
e somou exatos dez reais.
Voltando à casa, em
irracionalidade típica de seus catorze anos, não resistiu – a fome resmungava
em um estômago há mais de seis horas vazio – e comprou um pé-de-moleque.
Naquele noite, sentira, em seu dorso, o peso daqueles cinqüenta centavos:
- Agora, eu quero ver
você gastando, de novo, o dinheiro de nosso sustento, seu moleque, a mãe golpeava o
ar.
E saiu resmungando algo sobre
quem pagava aquela porra.
# Sugestão de link:
1) Brasil tem 16,2 milhões em
situação de pobreza extrema, aponta IBGE, aqui.
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