01:12
-
conto
,
discriminação
,
oitavo pecado
,
preguiça
2
comentários
Você não passa de um negrinho inútil, meu caro!
- QUERIDO, olhe para mim - disse D. Leopoldina, pondo as palmas das mãos sobre o rosto do pequenino Assis. – Nunca, nunca acredite naqueles que zombam de sua capacidade, certo? Fez-se uma longa pausa. A genitora sufocou-o com um imenso abraço, como que querendo protegê-lo da caixa de Pandora, alcunhada de mundo. Uma lágrima escorreu-lhe. Sabia que a vida ser-lhe-ia implacável; que não perdoaria sua origem humilde e sua descendência étnica. Inocente, esbugalhou os olhos, tentando compreender o motivo da emoção repentina. Mal sabia que este seria seu derradeiro afago.
Ressalto, leitor, para fins de coerência textual, que a estória, aqui exposta, passa-se no Rio de Janeiro, em 1845, época em que nascer negro era mais que um castigo do destino: era um castigo divino.