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conto
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discriminação
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oitavo pecado
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preguiça
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,
discriminação
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oitavo pecado
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preguiça
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Você não passa de um negrinho inútil, meu caro!
- QUERIDO, olhe para mim - disse D. Leopoldina, pondo as palmas das mãos sobre o rosto do pequenino Assis. – Nunca, nunca acredite naqueles que zombam de sua capacidade, certo? Fez-se uma longa pausa. A genitora sufocou-o com um imenso abraço, como que querendo protegê-lo da caixa de Pandora, alcunhada de mundo. Uma lágrima escorreu-lhe. Sabia que a vida ser-lhe-ia implacável; que não perdoaria sua origem humilde e sua descendência étnica. Inocente, esbugalhou os olhos, tentando compreender o motivo da emoção repentina. Mal sabia que este seria seu derradeiro afago.
Ressalto, leitor, para fins de coerência textual, que a estória, aqui exposta, passa-se no Rio de Janeiro, em 1845, época em que nascer negro era mais que um castigo do destino: era um castigo divino.
É um texto que se caracteriza, quanto ao conteúdo, pela apresentação de fatos, de acontecimentos, e, quanto à forma, pelos verbos no pretérito perfeito, imperfeito, mais-que-perfeito (mais raramente no presente) e pela determinação clara da passagem do tempo.
- Aaaah, pai! – estirou-se no colchão, que, apesar de encharcado, não parecia incomodá-lo. – Cadê a Tonha e o Pedim? Eles faz isso mió que eu! – riu-se, em uma risadinha preguiçosamente debochada.