A mulher dos meus sonhos

A SOBERBA #2


O sol não estava mais iluminado nem os passarinhos cantarolavam nos arvoredos. Era uma dia como outro qualquer. Daqueles que, no início, você deseja que termine logo e que, no final, prolongue-se por mais três ou quatro horas. Acredito, leitor, que as melhores (e piores) pessoas sempre surgem (e desaparecem) no inesperado.

12h30. Intervalo para o almoço. Aproveito e dou uma escapadela do escritório para a livraria da esquina. Há dias aquele Vade Mecum atualizado estava em meus planos. Quase correndo, atravesso o mar de pernas, entre puxões e xingamentos. Um “não vê por onde anda, seu apedeuta?” acertou minha nuca. Suspirei, balancei negativamente a cabeça e, com um franzir de testa, prossegui. Apenas me despertou a curiosidade aquele verbete esquisito.

12h40. Chego à livraria. Com palavras curtas e apressadas, interrogo a vendedora, que logo me indica a localização do livro almejado. Após cinco ou seis passos e dois olhares perdidos, finalmente o encontro. No exato momento que o toco, outra pessoa também o faz, de modo ainda mais enérgico. A mão, ao contrário dos modos da dona, era graciosa e bela.

 - Você não é aquele energúmeno que quase arranca minhas vísceras, não? - retorceu os lábios.

 - Hã? - o vocabulário, muito pomposo e erudito, confundia-me o cérebro.

Ressalto, leitor, que, em dias comuns, não sou tão lesado. É a endorfina que, naquele exato instante, invadiu-me. Explico: tenho uma queda, ou melhor, um imenso tropeço por mulheres inteligentes.

Vendo que apenas a saliva saía de meus lábios, tomou-me o livro e saiu por entre queixumes e maldizeres, finalizando com um longo “humpf!”.

13h30. Meu chefe, acompanhado de uma moça mui polida e de leves traços de soberba, entrou em minha sala.

 - Ricardo, gostaria de apresentá-lo à sua nova companheira de trabalho, Sofia.

 - O sorriso da moça desfez-se ao notar a familiaridade de meu rosto. O chefe, percebendo a mudança de semblante, questionou:

 - Ora, vocês já se conhecem, pelo visto, não?

 - Sim, sim. - respondeu, prontamente, com um sorriso amarelo.

13h40. Já era a quarta cortada que ela me dava. Sua desenvoltura, enquanto expunha seus atributos profissionais, era encantadora. Quanto mais ela me esnobava, mais aumentava minha dúvida sobre qual seria a raça de cachorro que criaríamos juntos: poodle ou pequinês? - eis a questão. Sim, leitor, sou daqueles tipos de homens piegas. Minha ex sempre dizia que eu mais parecia a mulher da relação.

5 anos depois. Se nos casamos e tivemos filhos? Se vivemos felizes para sempre? Não, não. Alguns dias após aquela conversa, descobri o único e fatal defeito da mulher de meus sonhos: da fruta que eu gostava, ela comia até o caroço.

# Sugestão de link:
1) Texto bem didático do Brasil Escola sobre a evolução da inserção da mulher no mercado de trabalho, aqui.
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