Venha, e me coma!

 A GULA #1

Obs.: Proibido acesso a menores de dezoito anos por conter alusão sexual.

AIDS (Poemas Avulsos)
 - DE BAIXA caloria, é? Henrique ria-se, enquanto atirava, pela janela do carro, uma ponta de cigarro. Deixe-me provar, então, para ver se o sabor é idêntico ao original!
Ao sair, entregou, satisfeito, os vinte reais da moçoila.
É tão bom te comer, sua gostosa!, pensava, enquanto transava com sua namorada. Somente pensava, claro. Afinal, namoradas e esposas são santas, destinadas exclusivamente ao sexo reprodutivo. Aventuras?, só com as demais, meu caro!

Sou eu quem paga essa p*!

A AVAREZA #3

 Obs.: Proibido acesso a menores de dezoito anos por conter palavras de baixo calão.
 
Mulher brigando (Poemas Avulsos)
- SOU EU quem paga essa porra!
De lugares e vidas tão distintos, ecoava esta frase, sempre muito bem acompanhada de gritos e insultos. Atribua isso aos arbítrios da Avareza: qualquer um pode ser proprietário de mãos bovinas, caro leitor.
De classe média alta, em seus catorze anos de compreensível rebeldia, Carlos monologava:
 - Não aguento mais minha mãe!, cerrava os punhos. Sou eu quem paga essa porra, imitava, em tom de escárnio, o timbre da genitora.
Manteve-se em silêncio por alguns segundos.
 - Quando eu for maior de idade, tudo será diferente, iludia-se. Passados quatro anos, tudo se manteve em idêntico estado, quiçá pior.
E por que a mãe de Carlos insistia nessa avareza, já que era aquinhoada?, você deve estar se questionando. Porque ela viera de uma família pobre, ou melhor, paupérrima e erigira todo seu patrimônio por meio de cada gota de suor de exaustivas falcatruas. Não é tão fácil quanto parece apropriar-se do erário público e ainda manter ares de honesto, leitor. Isso mesmo: a mãe de Carlos é a típica representante da politicagem brasileira.

Não, eu NÃO te amo!

A AVAREZA #2

DEVO tê-la assustado, não, querida leitora? Você, tão acostumada aos pieguismos exacerbados de Crepúsculo, indubitavelmente, percorreu o título deste conto com um franzir de testa. Não se preocupe que, na rispidez de minhas palavras, manterei intacto seu mundo cor-de-rosa.
Eu não te amo (Poemas Avulsos)Felipe de Sá transladava os polegares, enquanto mantinha os demais dedos entrelaçados. Sempre repetia este movimento, em momentos de tensão; em uma tentativa, quase sempre frustrada, de aliviar a sobrecarga de seus ombros. Olhava para o lustre que pendia do teto, ornamentado com uma réplica de Da Vinci. Suas pernas, cruzadas, denunciavam pés acelerados e compulsivos.
 - Mas, Dr. Lúcio, isto tem cura mesmo?, era a quinta vez que perguntava, em um interstício de dez minutos.
 - Felipe, acalme-se. Você já ouviu falar que para todo problema há uma solução?, seu olhar clínico era estranhamente frio e reconfortante. Pegue, tome mais um pouco desta água, entregou-o o copo que antes repousava sobre o criado-mudo, ao lado.

Síndrome do jeitinho brasileiro

A AVAREZA #1

Joaquim Almeida Machado, 43 anos, divorciado, dois filhos, eletricista. Esta é a identidade basilar do protagonista de nosso conto de hoje, caro leitor. Superficial? Acalme-se, que, no percorrer destas linhas, detalharei o perfil do pitoresco.
Avareza (Poemas Avulsos)Joaquim é o típico homem médio, de estatura mediana, de opinião e dizeres consensuais, QI aceitável e portador da síndrome do jeitinho brasileiro. Sinto dizer que a Medicina não se atém às doenças fictícias, resultantes do ócio improdutivo da bizarrice literária. Resta-me, portanto, descrevê-la com meus próprios hieróglifos: a síndrome do jeitinho brasileiro acomete todos aqueles que, aqui nascidos, ou até naturalizados, possuem a missão divina de obrar milagres, e multiplicar os pães de um salário mínimo; reitero, mínimo. Os principais sintomas deste mal são: atração magnética pelo verbete liquidação; incríveis habilidades argumentativas em contratos de compra e venda; compulsão por objetos de baixo custo, ainda que supérfluos; uso involuntário e contínuo da frase “parcela em quantas vezes, senhor?”; e, principalmente, tudo é sempre muito caro (e o dinheiro sempre muito escasso, claro), para o portador desta síndrome.

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