Síndrome do jeitinho brasileiro

A AVAREZA #1

Joaquim Almeida Machado, 43 anos, divorciado, dois filhos, eletricista. Esta é a identidade basilar do protagonista de nosso conto de hoje, caro leitor. Superficial? Acalme-se, que, no percorrer destas linhas, detalharei o perfil do pitoresco.
Avareza (Poemas Avulsos)Joaquim é o típico homem médio, de estatura mediana, de opinião e dizeres consensuais, QI aceitável e portador da síndrome do jeitinho brasileiro. Sinto dizer que a Medicina não se atém às doenças fictícias, resultantes do ócio improdutivo da bizarrice literária. Resta-me, portanto, descrevê-la com meus próprios hieróglifos: a síndrome do jeitinho brasileiro acomete todos aqueles que, aqui nascidos, ou até naturalizados, possuem a missão divina de obrar milagres, e multiplicar os pães de um salário mínimo; reitero, mínimo. Os principais sintomas deste mal são: atração magnética pelo verbete liquidação; incríveis habilidades argumentativas em contratos de compra e venda; compulsão por objetos de baixo custo, ainda que supérfluos; uso involuntário e contínuo da frase “parcela em quantas vezes, senhor?”; e, principalmente, tudo é sempre muito caro (e o dinheiro sempre muito escasso, claro), para o portador desta síndrome.
As contas crescem em progressão geométrica. Água, luz, telefone, pensão alimentícia. Sobra mês no final do dinheiro. E o artigo 6º de nossa Carta Magna?, indagava-se, revoltado, nosso pupilo. Bem, meu caro, lazer, de fato, é um direito de todos - de todos que podem dar-se esse luxo.
E em uma noite qualquer, no costumeiro calor fumegante de Teresina, Joaquim, já exausto de todo este contar de moedas, corolário de sua condição social, pôs-se em busca do impossível: um entretenimento de baixo custo. Bares, restaurantes, pubs (meu Deus, as pubs!): tudo, de muito longe, ultrapassava os limites do razoável.
Já cabisbaixo, em retorno para sua casa, o moribundo atravessou a Avenida Maranhão, famoso ponto noturno de prostituição de Teresina. Olhava para os lados, respirava sofregamente. E, então, passando por uma das vitrines de corpos semi-nus, ali exposta, somente a título de curiosidade, balbuciou:
 - Quanto você cobra?, dirigindo-se a uma das manequins. A voz trêmula denunciava o amadorismo.
 - Dez reais, respondeu a moçoila, por trás de alguns quilos de maquiagem, brincos e de infância perdida.
Após alguns segundos de estupefação, ao por seu queixo no lugar, sorridente, fechou o contrato de melhor custo-benefício de sua vida. E, assim, Joaquim realizou o impossível.

# Sugestão de link:
1) Avareza na concepção cristã, no Wikipédia, aqui 

# Sugestão de vídeo:
1) Avareza - Sete Pecados

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