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Gladiadores
Os
raios de sol atravessavam facilmente as escassas nuvens, em ângulo de 45º, no
sentido oeste, naquele fim de tarde de verão. O suor escorria, ondulando em
salientes curvas, um caminho árido e tortuoso, esculpido por sulcos de
cicatrizes e peitorais milimetricamente desenhados. Seus rostos refletiam uma
angústia, que almejava ser fúria, naquele frenesi de emoções e de gritos
desesperados da plateia animalesca. Seguravam na mão direita, ou esquerda, a
depender de variantes canhotas ou destras, uma longa espada, que reluzia um aço
imperioso de 50 centímetros e que sussurrava clamores de milhares de almas por
ela libertadas. Na mão esquerda, fincava um escudo, de 100 centímetros de
diâmetro, decorados minuciosamente por pedras toscas, que, criteriosamente,
amplificavam os gritos das mais horrendas figuras, desde mitológicas a
impressionistas. Aguardavam aqueles que poderiam ser os últimos minutos de suas
vidas, na esperança, quase insensata, de se verem libertos daquela gigantesca
prisão côncava.
A
350 metros dali, contados em uma linha reta de 35º, repousava seu real traseiro
o imperador, senhor de si e das vidas de todos os infelizes que contemplava sob
seu queixo, com um sorrisinho sarcástico, no canto direito de seus lábios.
Ergueu-se, em míseros 1 metro e 50 centímetros de altura, levantando seu dedo
polegar direito, ao tempo em que mostrava incisos amarelados e desgastados pela
ausência de higiene bucal.
A
batalha começou. O gladiador 1 avançou com sua espada, direcionando-a ao ponto
central da garganta do gladiador 2. Este, habilmente, abaixou-se, deixando
escapar, apenas, alguns fios de cabelos grisalhos, cortados pela afiadíssima
lâmina. Simultaneamente, esticou sua perna direita, insinuando uma rasteira,
girando velozmente seu corpo, em um ângulo de 180º, sentido horário. O
gladiador 1, já antevendo o movimento, pulou e concentrou todo o peso de seu
escudo em um golpe na região frontal da cabeça do gladiador 2. Este, mais lento
e estúpido que o outro, foi gravemente atingido e, com um baque surdo e um
levantar de poeira, caiu de costas no chão, apoiando-se sobre o lado esquerdo
de seu corpo. O gladiador 1, então, vendo-o em situação vulnerável, impulsionou-se
para esmagar a cabeça do gladiador 2. Este, dessa vez, fora mais rápido e rolou
pelo chão, enquanto atingia o calcanhar de Aquiles daquilo que há milésimos de
segundo fora uma arma letal. Prontamente, o gladiador 1 despencou no chão, em
um grito gutural, mais alto e intenso que qualquer um que dera, em suas
relações anais com seus companheiros de escravidão. O gladiador 2, dominado por
um prazer animalesco, ao ver aquele imenso guerreiro prostrado de quatro no
chão, na linha de sua cintura, investiu seu escudo contra o centro superior da
cabeça do gladiador 1. Este caiu em desalento, chocando fortemente o lado
esquerdo de seu rosto contra o árido solo. O gladiador 2, imerso em libido,
ergueu seus braços, enquanto arrotava ferozmente palavrões inaudíveis. O sangue
inimigo era refletido, ainda quente, em harmônicas nuances de seu abdômen. O tempo
de vitória do Narciso foi suficiente para que o gladiador 1 se recuperasse do
poderoso golpe e, impulsionado pela adrenalina, cortasse a perna do gladiador
2, separando seu pé do resto do corpo. Instantaneamente, em um movimento quase
imperceptível, o gladiador 1 pulou em cima do gladiador 2, desarmando-o e
prendendo seus braços e pernas, em um golpe, que seria, em tempos hodiernos,
elogiadíssimo por profissionais de artes marciais. O gladiador 2 sentiu seu
traseiro sendo pressionado contra o sexo do gladiador 1, enquanto as mãos
grandes e calejadas deste percorriam as laterais de sua cabeça, naquilo que
fora os últimos gemidos de sua vida. O clique do quebrar de ossos levou a
multidão à loucura, ensandecida por mais e mais circo – até mais que pão.
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