13:04
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adultério
,
amor
,
angústia
,
ciúmes
,
desespero
,
narração
,
reflexão
,
sexo
,
sofrimento
Sem comentários


Dicas de como ser um bom adúltero
NÃO RECOMENDADO
PARA MENORES DE 18 ANOS POR CONTER PALAVREADO DE BAIXO CALÃO.
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Quando você voltará, querido? – Vânia contorcia-se dengosamente por entre os
lençóis de algodão do motel.

- HAHAHA! – riu-se por inteira, com ênfase no
tom de deboche. Até quando aquela corna
vai aceitar suas traições, hein?
De
sobressalto, saltei sobre Vânia e, quando dei por mim, minhas mãos já estavam
envoltas em seu pescoço, enquanto paralisava suas pernas, que pendiam inúteis
entre as minhas.
- N-U-N-C-A mais repita isso! – a fúria ardia
em meus olhos. – Ouviu, sua rapariga?
– vi a cor esvaindo de seu rosto, enquanto se debatia inerte, tal qual uma
presa nas garras do predador. – Você sequer é digna de pronunciar o nome de
Helena, entendeu?!
Um
grito de clamor escapou da garganta de Vânia, despertando-me do transe de ódio,
no qual me instalara.
-
V-v-você está louco? – tossia bravamente, enquanto massageava o alvo da agressão.
Não
me esforcei em desculpas, nem queria fazê-lo. Simplesmente saí e resumi toda
minha repulsa em um cuspe, no ladrilho encardido do hall de entrada,
acreditando que os valores de minha amante eram similares àquele.
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As
tarefas mecânicas e repetitivas do labor me ajudavam a por um fim na desordem
de meus pensamentos. Helena é uma pessoa tão boa, dizia para mim mesmo. Boa
mesmo, em todos os sentidos, soltou, agilmente, entre gargalhadas, meu
inoportuno Dioniso interior. Tão boa que não merece um marido como você, frisou
meu inconsciente, sempre companheiro nos momentos difíceis. Ela tem que
entender, no entanto, que minha compulsão foge de meu controle, argumentava
comigo mesmo. Eu a amo com todas as minhas forças, porém esse desejo... é mais
forte que eu.
- Pedro? Pedro, você está me ouvindo?
Senti
dedos gélidos tocando meu dorso, trazendo-me de volta ao mundo tangível.
- Oi... Oi, senhor Martins? – dei duas
piscadelas, tentando me recompor do estado apático. – Já terminei de separar as
mercadorias, por categoria, conforme solicitado.
Ele
me olhou sob um franzir de cenho, titubeou e, com apenas dois afagos em minhas
costas, virou-se e saiu. Revirei os olhos, seguro de que ninguém contemplava
minha reação, pensando no quão enfadonho poderia ser meu emprego.
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De
roupas limpas, perfume barato e flores nas mãos, cheguei a minha casa,
inigualável aconchego após um dia exaustivo. Entrei suavemente, esperando
encontrar Helena já prostrada nos braços de Morfeu. Um clarão vindo de um dos
cômodos, porém, despertou-me a atenção, desviando-me da rota original.
- O que você faz no laptop essa hora, querida?
– desenhei um olhar inquisitivo em meu rosto.
-
O-o-oi, meu bem! – a voz falha denunciou seu espanto diante de minha presença.
– Apenas uns slides para as aulas de amanhã. – fez-se em um sorriso amarelo.
Helena nunca fora muito habilidosa em mentiras.
- Hum... – a desconfiança era vívida em meu
semblante. – Tem certeza? – sibilei.
Helena
logo se desfez em culpa e remorso, desvelando as inverdades.
- Estava em um site de relacionamentos
conversando com Roberto. – disparou, enquanto evitava minha reação de olhos
cerrados.
- Site de relacionamentos? Roberto? Quem é
esse tal de Roberto, Helena? – sentia o sangue em fervura em minhas veias.
- Apenas um amigo – ressaltou. A cor fugira de
seu rosto.
- E o que você quer conversando com ele? –
gesticulava freneticamente, retendo-me em um ímpeto animalesco.
-
Somos membros de um grupo de apoio para pessoas que já foram traídas por seus
cônjuges – suspirou, escurecendo o semblante.
Aquilo
me desarmou completamente. A raiva de outrora foi substituída por dolo e
complacência. Suspirei. Desabei na cama e sentei-me ao seu lado.
- Pedro, você já me traiu duas vezes. – disse,
com firmeza nos lábios. – E tenho certeza que está me traindo pela terceira
vez. – sibilou, entre dentes, palavras embebidas de ódio e rancor.
- M-m-mas como assim? – tentava, em vão,
contrapor suas acusações. As palavras eram revéis, no entanto.
- As roupas limpas, o perfume barato, as
flores e o sorriso maroto... – suspirou. – Todo o ciclo se repete, Pedro, mais
uma vez.
Já
havia esquecido as flores, e que elas deveriam ser uma surpresa. Abaixei a
cabeça, pus sua mão direita entre as minhas e ative-me ao silêncio. Nada havia
a ser dito naquele momento.
- Só me responda uma coisa: – apertou
fortemente minha mão e apoiou a testa em meu ombro esquerdo – você me trairia
novamente? – soluçou.
Após
segundos de hesitação diante do questionamento, respondi, sem mais delongas, com
firmeza:
- Não sei. – disse, e chorei.
# SUGESTÃO DE LINK:
1) A
geografia do adultério, por Luciano Trigo, AQUI.
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