Dicas de como ser um bom adúltero

NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 18 ANOS POR CONTER PALAVREADO DE BAIXO CALÃO.

- Quando você voltará, querido? – Vânia contorcia-se dengosamente por entre os lençóis de algodão do motel.
- Não sei, já disse! – enfatizei rispidamente. – E, mais uma coisa, - acrescentei – não me ligue mais! Da última vez, tive de fazer uma encenação digna de Oscar para convencer Helena – revirei os olhos. Sabe como ela é ciumenta, e que já vem desconfiando de um novo relacionamento paralelo.
- HAHAHA! – riu-se por inteira, com ênfase no tom de deboche. Até quando aquela corna vai aceitar suas traições, hein?
De sobressalto, saltei sobre Vânia e, quando dei por mim, minhas mãos já estavam envoltas em seu pescoço, enquanto paralisava suas pernas, que pendiam inúteis entre as minhas.
- N-U-N-C-A mais repita isso! – a fúria ardia em meus olhos. – Ouviu, sua rapariga? – vi a cor esvaindo de seu rosto, enquanto se debatia inerte, tal qual uma presa nas garras do predador. – Você sequer é digna de pronunciar o nome de Helena, entendeu?!

Um grito de clamor escapou da garganta de Vânia, despertando-me do transe de ódio, no qual me instalara.
- V-v-você está louco? – tossia bravamente, enquanto massageava o alvo da agressão.
Não me esforcei em desculpas, nem queria fazê-lo. Simplesmente saí e resumi toda minha repulsa em um cuspe, no ladrilho encardido do hall de entrada, acreditando que os valores de minha amante eram similares àquele.
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As tarefas mecânicas e repetitivas do labor me ajudavam a por um fim na desordem de meus pensamentos. Helena é uma pessoa tão boa, dizia para mim mesmo. Boa mesmo, em todos os sentidos, soltou, agilmente, entre gargalhadas, meu inoportuno Dioniso interior. Tão boa que não merece um marido como você, frisou meu inconsciente, sempre companheiro nos momentos difíceis. Ela tem que entender, no entanto, que minha compulsão foge de meu controle, argumentava comigo mesmo. Eu a amo com todas as minhas forças, porém esse desejo... é mais forte que eu.
- Pedro? Pedro, você está me ouvindo?
Senti dedos gélidos tocando meu dorso, trazendo-me de volta ao mundo tangível.
- Oi... Oi, senhor Martins? – dei duas piscadelas, tentando me recompor do estado apático. – Já terminei de separar as mercadorias, por categoria, conforme solicitado.
Ele me olhou sob um franzir de cenho, titubeou e, com apenas dois afagos em minhas costas, virou-se e saiu. Revirei os olhos, seguro de que ninguém contemplava minha reação, pensando no quão enfadonho poderia ser meu emprego.
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De roupas limpas, perfume barato e flores nas mãos, cheguei a minha casa, inigualável aconchego após um dia exaustivo. Entrei suavemente, esperando encontrar Helena já prostrada nos braços de Morfeu. Um clarão vindo de um dos cômodos, porém, despertou-me a atenção, desviando-me da rota original.
- O que você faz no laptop essa hora, querida? – desenhei um olhar inquisitivo em meu rosto.
- O-o-oi, meu bem! – a voz falha denunciou seu espanto diante de minha presença. – Apenas uns slides para as aulas de amanhã. – fez-se em um sorriso amarelo. Helena nunca fora muito habilidosa em mentiras.
- Hum... – a desconfiança era vívida em meu semblante. – Tem certeza? – sibilei.
Helena logo se desfez em culpa e remorso, desvelando as inverdades.
- Estava em um site de relacionamentos conversando com Roberto. – disparou, enquanto evitava minha reação de olhos cerrados.
- Site de relacionamentos? Roberto? Quem é esse tal de Roberto, Helena? – sentia o sangue em fervura em minhas veias.
- Apenas um amigo – ressaltou. A cor fugira de seu rosto.
- E o que você quer conversando com ele? – gesticulava freneticamente, retendo-me em um ímpeto animalesco.
- Somos membros de um grupo de apoio para pessoas que já foram traídas por seus cônjuges – suspirou, escurecendo o semblante.
Aquilo me desarmou completamente. A raiva de outrora foi substituída por dolo e complacência. Suspirei. Desabei na cama e sentei-me ao seu lado.
- Pedro, você já me traiu duas vezes. – disse, com firmeza nos lábios. – E tenho certeza que está me traindo pela terceira vez. – sibilou, entre dentes, palavras embebidas de ódio e rancor.
- M-m-mas como assim? – tentava, em vão, contrapor suas acusações. As palavras eram revéis, no entanto.
- As roupas limpas, o perfume barato, as flores e o sorriso maroto... – suspirou. – Todo o ciclo se repete, Pedro, mais uma vez.
Já havia esquecido as flores, e que elas deveriam ser uma surpresa. Abaixei a cabeça, pus sua mão direita entre as minhas e ative-me ao silêncio. Nada havia a ser dito naquele momento.
- Só me responda uma coisa: – apertou fortemente minha mão e apoiou a testa em meu ombro esquerdo – você me trairia novamente? – soluçou.
Após segundos de hesitação diante do questionamento, respondi, sem mais delongas, com firmeza:
- Não sei. – disse, e chorei.

# SUGESTÃO DE LINK:
1) A geografia do adultério, por Luciano Trigo, AQUI.

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