O abandono de crianças e idosos em asilos
Olhava fixamente aquele retrato
amarelado e desgastado pelas intempéries do tempo. Tentava imaginar como seria
o rosto dele, após tantos anos. Será se ele tem o garbo do pai? Será se ele tem
os olhos da avó? Não sei, nem nunca saberei. Absorta em meus pensamentos,
encarava o nada, e ali me mantive em lágrimas e esperanças perdidas.
Descobri, há vinte anos, que era
portadora de esclerose múltipla. As palavras soavam inaudíveis de meus lábios,
tentando, em vão, expressar o impacto daquela notícia. Como a natureza poderia
ser tão cruel? Por que eu? Será se não mereço ter uma vida plena, nem que seja
um pouco mais? Padeci diante das lembranças de todo o tempo perdido e das
chances abandonadas, ou pelo simples medo de errar ou pelo cômodo da imparcialidade
diante das escolhas.
Agora, aqui estou. Sentada nesta
cadeira de rodas, dependendo de tudo e de todos para as mais elementares
atividades cotidianas. O galope de minha doença transparece no crescente peso
que despenca sobre meus músculos. Por que eles não respondem aos comandos do
seu mestre? Apenas sorriem diante do fracasso de minhas tentativas.